sábado, 30 de maio de 2009

Ritos & Mitos.


Segundo Geertz (1978), a religião indígena é “uma maneira de construir o mundo” e, devido a esta característica, tem influência direta na organização social dos grupos e nas práticas de subsistência como a caça, a pesca e a agricultura. A compreensão dos sistemas de crenças ou cosmovisão que as populações indígenas têm em relação a natureza inclui os conhecimentos sobre os componentes dos ecossistemas e suas interações, as formas concretas que assumem na paisagem e suas próprias dinâmicas (Toledo, 1990).
Para as populações nativas a floresta não se restringe apenas a um conjunto de recursos naturais, mas também representa forças espirituais e cósmicas. Os Kayapó acreditam que os locais das tribos velhas ou abandonadas são ocupados por muitos espíritos. O medo aos espíritos restringe o acesso a esses locais, sendo permitido somente aos que lidam com os espíritos – os pajés – e a grupos especiais de caça.
Ao estudar as plantas utilizadas nos rituais e crenças dos índios Waimiri Atroari (Karib) da região amazônica, Milliken et al (1992) relatam que os mesmos também atribuem à floresta um valor sagrado, pois a mesma fornece diversas plantas que possuem um importante papel em rituais e cerimônias sagradas.
Os ritos são “Regras e cerimônias que se devem observar na prática de uma religião (...) 3. Qualquer cerimônia de caráter sacro ou simbólico que segue preceitos estabelecidos” (FERREIRA, p.1240, 1986). O xamã (pajé) é o mediador entre o mundo dos vivos e dos mortos e nessas cerimônias são realizados curas, previsões e proezas sobrenaturais.Os rituais de cura fazem parte da religião indígena e são aplicados pelos pajés, onde a religiosidade se manifesta através de canções, danças, comportamentos e objetos utilizados para a realização dos rituais.Eles consideram que a doença é um espírito que entra no corpo do doente e que vai se retirado pelo pajé, quando ele entra em estado de transe.Alguns ritos são utilizados para os índios que morrem pertencentes à comunidade. Algumas tribos enterram os corpos dos índios em vasos de cerâmica junto com os objetos pessoais. Os rituais indígenas não são iguais em todas as tribos, eles sofrem modificações de acordo com a tribo em que ocorre, nas músicas, instrumentos e vestimentas, e essa diferença é que constrói a particularidade de cada povo indígena e enriquece a sua cultura.Nem todos os rituais são abertos ou revelados a povos não indígenas. Este rituais “são coisas intimas, tipo um dever, uma oração entre você e sua família, que não se revela a todo mundo. As coisas de Deus que têm valor têm também segredos.” Revela a artesã Josefa Jontania de 47 anos, seu povo se localiza e Águas Belas, Pernambuco.Uma explicação para a não revelação de alguns rituais indígena para outros povos, é um reflexo da colonização, o que levou os índios através da história, para se protegerem dos branco, a esconder suas práticas e costumes, como uma forma de mecanismo de defesa para manter suas tradições e costumes. Porém vários povos indígenas têm aberto os seus rituais para a população não indígena assistir, como forma de se afirmarem publicamente como índios, como uma forma de recuperarem sua identidade, resgatando sua memória ancestral e a crença nos antepassados.Todas as tribos acreditam na força da natureza e nos espíritos dos antepassados e é para eles que realizam rituais, cerimônias e festas. Eles acreditam numa vida após a morte.Citaremos aqui alguns exemplos de rituais praticados por algumas tribos indígenas.Alguns rituais de tribos pernambucanas: Toré, Praiá, Jurema, Ouricuri, dança do Buzio.
Falaremos aqui também do ritual da Pajelança realizados por tribos no Alto do Xingu.A pajelança, como e chamado o ritual de uma pajé. Para saber a origem de uma doença ou enfermidades é necessário um iluminação prévia e um contato co o mundo dos espíritos, onde o pajé conversa cós estas entidades. Os espíritos podem ter contato com o pajé através dos sonhos ou da alteração de consciência, através do uso, pelo pajé, de substancias alucinógenas.
Durante o ritual de cura, ao mesmo tempo que reza, o pajé solta baforadas do tabaco sobre o doente e aspira essa fumaça, levando-o a ter visões que vai direcioná-lo a perceber e compreender o que esta acontecendo de estranho na natureza, ou vai predizer sucessos e insucessos. Durante esse ritual de cura o pajé também segura um uma das mãos o maracá, cujo barulho informa a aproximação do espírito.
O pajé recebe o pagamento, o qual depende da comunidade onde foi realizado o ritual. Geralmente é dado um colar confeccionado com conchas, que é muito valorizado pelos índios do Xingu. Quando o preço do pagamento é muito alto, e a tribo não tem condições de pagar, esta recorre à medicina dos brancos.Na pajelança também pode ocorrer a realização de um feitiço que vai beneficiar a comunidade que está participando do evento.
A pajelança é um culto à encantaria. Esta centrado na figura do encantamento e esses seres encantados estão presentes nas florestas, no mundo subterrâneo e no mundo aquático. E o pajé é o instrumento pelo qual o encantado se manifesta. (colocar o vídeo da pajelança realizado no hospital).

O Pajé e Xamanismo

Como vimos o pajé, nome de origem Tupi, é o intermediário entre o mundo material e o espiritual, ele possui a função de sacerdote, como também de mediador, pois atua nas causas das doenças, descobrindo as forças espirituais que as desencadearam.
No decorrer da história o Xamã era visto como uma pessoa ligada a cultos primitivos, "Arcanos", e que com o tempo seriam substituidos por culturas "Superiores", a medida que essas pessoas iriam entrando em contato com essas culturas. Porém esse fato não se concretizou, porque o xamanismo tem se desenvolvido nos países com alta tecnologia, pois as pessoas buscam nessas religiões ligadas a natureza repostas para o problema da vida moderna.
O pajé não é uma função hereditária e nem é uma opção pessoal, pois na maioria dos povos indígenas a pessoa é escolhida por entidades espirituais, manifestada, ou através de sonhos, ou pela capacidade dessa pessoa emn prever o futuro.
A pessoa escolhida ao aceitar o cargo passa por um período de preparação com outros pajés, aprendendo rituasi e como fazer contatos com os espíritos.
Compete ao pajé curar as pessoas, predizer o futuro, expulsar maus espiritos e compor cantos. Durante a pajelança o transe pode ocorrer com a utilização de alucinógenos (ayhuasca, paricá e outras especies do gênero virola) e tabaco no cachimbo. O tabaco serve para cura e purificação do ambiente. Algumas vezes o pajé pode assumir a figura de um animal, facilitando o contato com o mundo espiritual.
Os pajés são temidos e respeitados por possuírem poder. Os índios os tratam bem onde quer que eles se encontrem. Sendo mencionados de forma honrosa em seus cantos e sendo bem acolhidos em suas festas e danças, pois acreditam que as coisas correm bem quando são amigos dos pajés, e correm mal se não agradam a estes.
O Xamanismo possui um papel social e ecolégico influenciando a comuniddade na preservação da natureza. Em algumas comunidades indígenas existe apenas um pajé, em outras existem mais de um, e apesar de na maioria ser uma atividade exclusimamente masculina existem aldeias que o papel de pajé pode ser exercido por índias. O papel das pajés pode ser visto hj na socieade hoje através das benzedeiras, e os pajés andarilhos que tem papel missionário pode ser identificado nos beaots de nosso tempo, como Antônio Conselheiro na Bahia e Beato Lourenço no Ceará.

Formas de Expressão.

A Crença dos Povos Indídenas.

Quando falamos de religião indígena estamos falando de Xamanismo, e veremos aqui seus principais fundamentos e caracteristicas.
Como vimos anteriormente os povos indígenas foram considerados no decorrer da história como povos sem crenças que não possuíam Deus ou deuses, ou até ídolos, ou digo, não possuíam religião alguma. Porém os estudos nos mostram que os índios possuíam uma noção da existência de uma força, de um Deus superior a todos.
O xamanismo, prática religiosa indígena, que tem fundamentos complexos por ser uma religião que se origina da fusão do animismo com o totemismo.
O animismo tem como caracteística a relação entre a sociedade indígenas e a natureza (o sol, a lua, as rochas, animais, árvores, etc...), para eles a natureza possui ânimos ou vida.
O totemismo se manisfesta com a ligação com o objeto totem, compreendido através da ligação do homem com o animal ou seu espírito, podendo ser também através de seres inanimados(o vento, a chuva, estc...).
Resumindo, o xaminismo é uma religião que traz uma concepção de "animais e outras subjetividades que provam o universo - deuses, espírito, mortos, habitantes de outros níves cósmicos, plantas." (CASTRO, P.350,2002).
Através do xamanismo os indios acreditavam que :" os animais são, gente, ou se vêm como pessoas(...) espírito mortos e xamãs assumem formas animais, bichos que viram outros bichos, humanos que são inadivertidamente mudados em anamais" ( CASTRO, p.351,2002).
Isto quer dizer que quando o homem morre vira animal, ou outro ser, mas continua a ser humano, de modo não evidente (de outra forma). Para eles os seres humanos representam uma subcategoria "dos apapalutápa-mína", e/ou virce versa, ou seja "bicho é gente".
Quanto a figura do xamã, este possui uma posição de destaque em meio a religião indígena, no Brasil a figura do xamã é conhecido como pajé ou pai, ele é um líder religioso da tribo, que guia o povo índigena e os protegem de qualquer mal. É o xamã que tem a atribuição de se encontrar como o sobrenatural.
Os Xamãs possuem várias outras atribuições como por exemplo: profeta, mediadores entre o sobrenatural e os homens, domínio dos fenômenos da natureza, nomeação dos recém-nascidos, homens santos, dentre outros.
Possuem grande prestígio entre os índios, portanto eram poupados de todas asa guerras, são marcados pelos cânticos e danças, a única preocupação do xamã era a religião da tribo.
No Brasil, o termo xamã, é empregado para designar um "homem-médico", feiticeiro ou mago, e possuía prestígio em todas as sociedades primitivas.
As religiões indígenas através do profetismo buscam uma terra sem mal que pode ser en consequencia da opressão vivida por esse povo no decorrer da história e até hoje. E essa terra sem mal, não descartaria a guerrad, ao contrário, a pontencializaria. Com isso podemso destacar uma outra importante atribuição dos xamãs é a de prever as guerras e suas consequências, inclusive quando se deveria travar uma.

Aspectos Históricos

Antes de falarmos da religião indígena, é importante citarmos alguns fatos relacionados ao encontro desses povos indígenas com outros povos, os quais aconteceram em datas e períodos diferentes e tribos indígenas diferentes.
Através deste encontro surgiu a idéia de "selvagens" (indígenas), civilizados (europeus). Vejamos porquê: " A noção de civilização torunou-se a chave do conhecimento inaugurado pela filosofia que ficou conhecida pela filosofia das LUZES, introduzindo uma imagem dual da humanidade, dividido entre aqueles que viviam em estado de natureza e os que tinham alcançado o estado de cultura." (DOMINGUES, citado por irmã Rizzini; p.5315).
Observamos que houve uma covardia e falta de respeito por parte dos europeus em relação aos índios brasileiros, no que se refere a sua religião, terra, vida e a sua cultura.
Os europeus ao verem a primeira vez os índios foram despertados vários sentimentos: " De espanto, curiosidade, atração, repulsa, medo, cobiça e hostilidade, uma multiplicidade de olhares que os caradterizaria, no mais das vezes como gentes bárbaras, bestiais, malditas, sexualmente desenfreadas, sem verdade, sem lealdade, sem fé, sem lei ou rei, como pontuam." (MENDONÇA, p. 3, 2007).
Sabemos que é uma visão preconceituosa e etnocentrica dos portugueses para justificar sua dita superioridade.
O primeiro encontro dos portugueses com os índios foi pacífico e tranquilo, onde houve espanto por parte daqueles em ver que os índios não usavam roupas e seus armamentos eram rústicos, como arcos e flechas.
Este encontro inicialmente pacífico e com troca de presentes, já trazia enraizado o etnocentrismo e com o passar do tempo, tornava-se mais visível, o que levou a escravizção dos ínidios e a imposição de um idioma e uma religião, sem perceberem ou se importarem com a propria manifestação religiosa dos índios.
Após setenta anos deste encontro esta era a visão dos portugueses em relação os índios: " A língua deste gentio todo pela costa é uma: carece de três letras - não se acha nelas F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei e desta maneira vivem desordenadamente [...] não adoram coisa alguma, nem tem para si que há na outra vida glória para os bons, e pena para os maus, todos cuidam que se acaba nesta e que as almas fenecem com os corpos, e assim vivem bestialmente, sem ter conta, nem peso, nem medida[...] são muitos desonestos e dados à sensualidade e entregam-se aos vícios como se neles não houvera razão de humanos." (GANDAVO 1980, citado por MENDONÇA. p. 3, 2007)
A justificativa dos portugueses para a escravização, massacres e evangelização dos índios é que achavam que esse povo não possuíam vocabulário completo e por isso não acreditavam em Deus (Deus cristão), não tinham leis nem regras a seguir e por viverem na luxúria, diga conjunção carnal.
Estima-se que a populaçãoindígena na época do descobrimento era de aproximadamente mil povos no território brasileiro, sendo de dois a seis milhões de indigenas, hoje, tem-se apenas 277 povos sendo que sua população está em torno de trezentos mil índios, as causas disso são: desde agreção direta dos colonizadores, epidemias de doenças para as quais os índios não tinham proteção e nem acesso a cura.
Os indigenas que habitavam o Brasil por volta de 1500 sobreviviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amedoim, feijão, abóbora, batata doce e principalmente mandioca. Usavam técnica rudimentar, da coivara, que consiste na derrubada da mata e queimada para utilização da terra. Domesticavam animais de pequeno porte, como porco do mato e a capivara.

domingo, 10 de maio de 2009

Justificativa do Blog

A atividade religiosa indígena brasileira sofreu diversas mudanças nos últimos anos, principalmente na região nordeste. A diversidade cultural e a dita superioridade religiosa dos portugueses, bem como o preconceito do monoteísmo ao panteísmo indígena ocasionou vários conflitos entre esses povos desde o período colônial até o nossos dias, vale salientar que esses conflitos tiveram, realmente, seu início a medida que os portugueses resolveram escravizar os índios impondo além de trabalhos forçados sua linguagem e religião. Pois os índios, até então, eram considerados um povo amável, que desejavam o bem ao próximo e à natureza.


"Tão afáveis, tão pacíficos, são eles, (...) juro a Vossas Majestades que não há no mundo uma nação melhor. Amam a seus próximos como a si mesmo, e sua conversação é sempre suave e gentil, e acompanhada de sorrisos; embora seja verdade que andam nus, suas maneiras são decentes e elogiáveis" (COLOMBO, citado por BROWN, p.11, 2003)


Desde o período colonial os índios do nordeste do Brasil criaram uma resistência à mudança de sua religiosidade, foram torturados ou mortos pelos jesuítas, fato contrário ao que é ensinado nos livros de história. Vejamos esse depoimento:


“ cruéis e insolentes mortes acontecidas em vários Índios da dita Vila, e em suas mulheres,a cujos corpos, bárbara e inumanamente se lhes negou sepultura, pelos mesmos assassinadores, que os lançaram no rio denominado de São Francisco, para se não verem juncadas as suas margens de tantos corpos mortos”.

Este depoimento foi extraído do ant. 1800, agosto, 18] AHU_ACL_CU_ , Cx. , D. .REQUERIMENTO do juiz Ordinário de Cabrobó, João Teixeira de Andrade ao príncipe regente [D. João], pedindo ser indenizado pelas perdas e pelo tempo em que ficou preso por ter feito a devassa sobre o assassinato de vários índios na vila de Santa Maria.


Catequizar os índios foi uma tarefa difícil. De todos os que se embrenharam nesta tarefa os bandeirantes eram os mais cruéis e truculentos. Com todos esses acontecimentos, desde o período colonial até os dias de hoje é de esperar que tenha existido alguma influência do cristianismo, do candomblé ou da umbanda na religião indígena, mesmo com toda sua resistência. Fato que será objeto de estudo desta pesquisa. Por outro lado existem grupos que garantiram a manutenção de sua identidade religiosa e tentaremos explicar o porquê.


Existem, porém, índios que aderem a outras práticas religiosas e não abandonam totalmente sua cultura, sua tradição. Para entendermos todo esse processo, caminharemos pela história dos índios, seus cultos, ritos e mitos religiosos.


Um dos motivos pelos quais a identidade religiosa foi mantida foi a perpetuação da linguagem e da estrutura social. Os índios depositam na figura do pajé, um certo misticismo, acreditam que ele é uma ligação com o deuses (espíritos). Um sacerdote, um aconselhador, um médico, etc... O dito Xamanismo.


Foi num ritual de fé

Que um caboclo me levou
Na cabana de um pajé
Feiticeiro da Nação Kraô...

Seu olho faiscava quando voltou
Na mão trazia o toque de curador
Pegava brasa viva no fogaréu
E ao pôr numa ferida
Purgava mel...

Trecho do poema Pajé de Mario Gil e Paulo César Pinheiro.

Apesar de uma redução significativa na população indígena, os remanescentes lutam para manter suas tradições, sua fé, seu povo. Outros povos de outras crenças deveriam conhecer e respeitar o povo indígena que é primogênito desta terra chamada Brasil.