quarta-feira, 3 de junho de 2009

Kayamuras: Pajelança; Kuarup; Iniciação

A pajelança é um ato-ritual de cura, levada á cabo por vários pajés. Nestas ocasiões eles se reúnem para fins curativos ou cuidar da realização de um feitiço que beneficie todas as comunidades participantes do evento.
A crença da pajelança é assentada na figura do encantamento, ou seja, é um culto á encantaria. Encantados são os seres invisíveis que habitam as florestas, o mundo subterrâneo e aquático, regiões conhecidas como "encantes". Os pajés servem de instrumentos para a ação dos encantados. Para tornar-se pajé, o indivíduo precisar ter um dom de nascença ou "de agrado" (adquirido).
Os pajés Kamayurá estabeleceram um sistema de saúde baseado na magia, transmitido oralmente e na utilização de plantas tradicionais.
O velho pajé Sapaim é o pajé mais conhecido dos kamaiyrás. Ficou famoso em 1986 por tratar do naturalista Augusto Ruschi. Hoje ele mora em Brasília e sua família é mantida pela FUNAI.
Kuarup

“Mavutsinim, desejava fazer com que os mortos voltassem à vida. Foi uma mulher, pintando-os e adornando-os com colares, penachos e braçadeiras de plumas. Cravou-os no centro da aldeia. Preparou então uma festa e distribuiu alimentos a todos os índios, para que esta não fosse interrompida. Pediu aos membros da tribo que cobrissem seus corpos com uma pintura que expressasse apenas alegria, pois aquela seria uma cerimônia em que, ao som do canto dos maracá-êp, os mortos iriam reviver: os Kuarups criariam vida.
No outro dia a festa continuava; os índios deveriam cantar e dançar, embora proibidos pelos pajés de olharem para os troncos. Aguardariam de olhos cerrados a grande transformação.
Naquela mesma noite, as toras começaram a mover-se, as penas mexiam-se como se estivessem sendo sacudidas pelo vento, tentando sair das covas onde foram colocadas. Ao amanhecer já eram metade humanos, modificando-se constantemente. Mavutsinim pediu então aos índios que se aproximassem dos Kuarups sem parar de festejar, cantando, rindo e dançando. Apenas os que haviam passado a noite com mulheres não poderiam se integrar à cerimônia, permanecendo afastados do local. Um destes, porém, com irresistível curiosidade, desobedeceu às ordens do pajé e aproximou-se, quebrando o encanto do ritual. E os Kuarups voltaram à sua forma original de troncos.
Contrariado, Mavutsinim declarou que, a partir daquele instante, os mortos não mais reviveriam no ritual do Kuarup! Haveria somente a festa. Ordenou que os troncos fossem retirados da terra e lançados ao fundo das águas, onde permaneceriam para sempre.”
O ritual do Kuarup é uma festa realizada para os mortos. Considerado um mito das origens, uma celebração dos ancestrais e um rito de ressurreição. É um dos mais importantes rituais de algumas tribos indígenas do Alto do Xingu, entre elas a tribo Kamayurás, a qual descreveremos aqui esse ritual. Essa cerimônia ocorre uma vez por ano, durante a estação da seca, entre os meses de julho e setembro. O nome do ritual se origina de um tipo de arvore cujos troncos representam os espíritos dos mortos.
A cerimônia de abertura do Kuarup, inicia-se vários meses antes, onde são realizadas pescarias durante vários dias, para prover alimentos para os grupos convidados. Quando os pescadores voltam, todo peixe é colocado no lugar onde o morto está enterrado, que geralmente é no centro da tribo. Na noite anterior ao retorno dos pescadores, os homens pintam a pele e o cabelo com um corante vermelho (urucum) e outro verde (jenipapo) que duram 10 dias, e tocam uma flauta “jukeú” (instrumento de quase dois metros de comprimento formado de tubos)., bebem mingau, cantam, fumam, e esperam durante toda a noite sem dormir. As mulheres não participam desta reunião.
Uma semana antes são cortados os troncos que irão representar os mortos, os quais ficam escondidos na mata até a véspera da cerimônia. Depois de preparados os troncos são colocados em seus lugares. As mulheres ficam nas malocas, até que os troncos sejam enfiados na terra, e só saem de lá quando os índios dão um grito. Elas trazem os adornos que pertenciam ao morto, e os parentes vão colocando esses adornos (plumas, colares, dentre outros), como se estivessem vivo.
Durante o Kuarup os índios contam, dançam. Depois da cerimônia os espíritos dos mortos estão livre para irem ao mundo dos mortos.
RITUAL DE INICIAÇÃO DO ALTO DO XINGU: A RECLUSÃO FEMININA KAMYURA.
Este ritual consiste no “aprisionamento” de jovens índias, que por volta do seu primeiro fluxo menstrual, são reclusas em uma parte da casa sem que possam sair. Este ritual prepara as moças para se transformarem em mulheres (mães e esposas).
Durante o aprisionamento, a jovem aprende artesanato, terce o fio de algodão e aprende a cozinhar com a mãe e outras mulheres da tribo. Essa reclusão dura em média um ano. Durante esse tempo não é permitido cortar a franja, e essa cobre-lhe o rosto, impedindo que outras pessoas, que não pertencem ao ciclo familiar da jovem lhe olhem diretamente nos olhos.
Concluído o tempo de reclusão, a jovem é apresentada a toda comunidade onde pode haver pretendentes e propostas de casamento.
A reclusão também mantém a jovem intocadas e é uma forma de controle de natalidade, e evita que tribos rivais roubem suas mulheres. O fim da reclusão ocorre durante a cerimônia do Kuarup, algumas chegando a se casar nesse mesmo dia.
O ritual masculino de iniciação não é obrigatório. Só aqueles jovens que desejam se tornar líderes do grupo ou grandes lutadores de Huka-huka. Por volta dos 14 anos de idade, os rapazes são isolados, recebem alimentação especial para limpeza espiritual e enrijecimento dos músculos. Recebem também ensinamento dos velhos lutadores e treinamentos preparando o jovem para ser um excelente lutador, na luta alto-xinguana. É o ritual de passagem dos jovens para a vida adulta. A luta ocorre durante a cerimônia do kuarup.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Tribo Kamayurá Moroneta

O Primeiro contato com essa tribo foi realizado por Karl Stein. Neste período as aldeias contactadas estavam migrando para a lagoa do Ipavú. A aldeia era formada por grupos de malocas dispostas circurlarmente, cada conjunto de malocas tinha um chefe, o hokayat, e cada maloca abrigacva uma família com todos os seus parentes.
A cada 30 anos a disposição das malocas era mudada, e cada uma delas durava 10 anos.

Para os Kayamurás o Mavutsinim foi o primeiro homem. O criador do fogo, da água, as pessoas, da serpente. Equivale a figura de Deus. Ele habitava o Morená, um lugar mítico.
Mavutsinim criou a mulher a partir de um tronco de árvore (mawu), passando uma folha (anemob) sobre o tronco e rezando. Depois pegou um mosquito e colocou suas asas no nariz da mulher que despertou. Como a mulher não tinha cabelo, colocou-lhe um cabelo comprido.
O primeiro filho desta mulher foi lanama e a primeira filha Tanumakalo.
Mavutsinim criou primeiro o peixe e soltou-o na água. Depois falou com Kwat e Jal, o Sol e a Lua,filhos da Onça, para que pescassem somente quando estivessem crescidos.

Dando continuidade a sua criação Mavutsinim criou mais água e o lago de Morená. Os irmãos, Sol e Lua, desejavam mais pessoas e então, Mawustinim criou mais 20 homens entre eles: Kamiyat, Kuarup, Mabu e Kuayakaup. A partir destes troncos, se formaram as nações índias do Xingu. Deste modo, foram criados ainda, os: Aurák, Kuikúro, Nafukuá, Kalapálo, Machipú, Yaealapiti, Trumáe, etc., e os enviou para povoar o mundo.

Foi também Mavutsinim quem criou o arco convencional dos índios, o arco negro para os Kamayurá, muito valorizado em todo o Xingu, por sua dureza e resistência e foi quem curiosamente forneceu as armas de fogo ao homem branco. Conta-se que tomando quatro pedaços de barro, resolveu criar as tribos Kamayurá, Kuikúro, Waurá e Txukaha mãe. Criou também as panelas de barro, a "borduna" (arma de madeira indígena),), os arcos brancos e negros e a espingarda.

Após o contato com o Homem branco, veio a idéia de que Mavutsinim teria colocado o homem branco bem longe, com suas efermidades e armas de fogo.
Mavutsinim criou o cavalo para o branco e também três homens brancos, dois dos quais emigraram, enquanto o terceiro habita o Morená montando o cavalo. Conta-se que quando um índio tem a visão deste homem branco montado no cavalo, é com certeza que morrerá em três dias.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Os Rituais

TORÉ
O ritual é considerado o símbolo maior de resistência dos povos indígenas do Nordeste. Ele é realizado geralmente de 15 em 15 dias, tanto com o objetivo religioso quanto festivo, de comemoração. À primeira vista, pode ser percebido como uma dança, que varia de ritmos e linhas (toadas) em cada povo. O maracá dá o tom das pisadas e os índios dançam, em geral, em círculo. O toré também tem sentidos diferentes e podem ser celebrados para homenagear autoridades ou visitas; como instrumento político, em exibições públicas nas cidades onde as aldeias estão localizadas para reafirmar a coletividade perante a sociedade; e também com função religiosa, de penitência, resgate dos antepassados e relação com a natureza. No povo pipipã, quando alguém da aldeia morre, a comunidade se resguarda e passa o período de um mês sem realizar o toré no terreiro, como uma forma de homenagear aqueles que se foram.
PRAIÁ
Os pankararu e kambiwá acreditam na força encantada presente nos escolhidos para vestir os fardamentos (feitos da cabeça aos pés da fibra do caroá), que escondem a identidade e fazem aumentar o mistério da prática. Quando realizam promessas, os índios têm que pagá-las, promovendo uma festa com oferendas. No povo kambiwá, o ritual é realizado uma vez por mês, no período da lua cheia. O povo pankararu (foto) realiza eventos ao longo do ano que contam com a participação dos praiás, a exemplo da corrida do umbu, que ocorre no mês de março quando eles encontram o primeiro umbu maduro, simbolizando o início da safra; e do menino do rancho, uma espécie de rito de iniciação. É também no período da corrida do umbu que os índios fazem, paralelamente, a queimação da cansanção, um tipo de urtiga braba que é utilizada como autoflagelo. Quando não são realizados os rituais, os fardamentos são guardados em um lugar sagrado chamado de póro.
JUREMA
Cerimônia religiosa na qual os índios costumam ingerir uma bebida extraída da juremeira – a jurema ou vinho do anjucá. Ela é considerada alucinógena e atuaria como elemento de comunicação com os ancestrais. Praticamente todos os povos do Nordeste possuem essa tradição. O trabalho da "mesa da jurema" é denominado pelas etnias como "ciência de índio". O ritual tem o objetivo de curar doentes, afastar mau olhado ou receber conselhos dos antepassados. A maioria dos povos guarda os detalhes da prática em segredo. A receita da jurema, por exemplo, dificilmente é revelada. Sabe-se, no entanto, que existem vários tipos da planta, mas geralmente a preta ou a "braba", como eles se referem, é utilizada para a cerimônia. Os índios ficam sentados ao redor do altar no chão, onde também é colocada uma cumbuca com fumo de várias ervas. Em seguida, as entidades são invocadas através dos toantes, que, falam sobre o tempo em que os antepassados habitavam os territórios.
OURICURI
Presente em alguns povos, como os fulni-ô, kambiwá e pipipã, o ritual representa um retiro religioso para os índios. A prática é realizada secretamente e, diferentemente de outros rituais, não permite a participação do não índio. No caso dos fulni-ô, de Águas Belas, o ouricuri acontece todos os anos entre os meses de setembro, outubro e novembro. Até quem mora longe comparece ao evento. Durante 90 dias, todos os índios se mudam para a aldeia Ouricuri, lugar considerado sagrado por eles. Poucas informações são divulgadas sobre o que acontece no local durante o evento. Sabe-se, por exemplo, que as relações sexuais e a ingestão de bebidas alcóolicas são proibidas. Existe um juazeiro sagrado (foto), utilizado para fazer promessas. Muitos atribuem ao ritual a força de união do povo. Os kambiwá e pipipã realizam o ouricuri na Serra Negra, em Floresta. Devido a conflitos entre os povos, os kambiwá passaram dois anos sem ir no local para evitar confronto com os pipipã.
DANÇA DO BUZO
A tradição foi resgatada pelos jovens do povo pankararu, em Tacaratu, através de relatos dos membros mais velhos da aldeia. Eles formaram o Grupo de Dança Indígena Pankararu e passaram a divulgar o costume. Os passos são diferentes do toré e os integrantes não dançam em círculo. O grupu misturou a dança do buzo com a dança da lança e utilizou a gaita e o rabo de tatu como instrumentos musicais. O resultado é muito vibrante. Segundo as lideranças do povo, a dança é de origem pankararu.